segunda-feira, 13 de julho de 2015


Judeus Ortodoxos estão lendo e discutindo sobre a leitura do Novo Testamento


(Joseph Shulan)

Eu tenho falado muitas vezes sobre alguns macros desenvolvimentos que D-us está fazendo na comunidade judaica. O que nós, os discípulos judeus de Yeshua e os cristãos estamos fazendo é micro – muito pequeno em comparação com o que       D-us está fazendo. Apenas nas últimas semanas, o rabino Shmuley Boteach, um rabino ordodoxo muito bem versado que tem debatido e falado com os judeus messiânicos na mídia por vários anos, acaba de publicar um livro com o título: Jesus Kosher. Muitos cristãos criticam o rabino Boteach porque o seu livro não apresenta a tradicional visão cristã ortodoxa Evangélica de Jesus como o Messias. Em minha opinião qualquer momento que os judeus pensam de forma positiva sobre Jesus e encorajam as pessoas a ler o Novo Testamento é um bom momento.   A semana passada em Jerusalém o Instituto Pardes lançou um novo livro escrito por Amy-Jill Levine, O Novo Testamento Judaico Anotado. Houve uma discussão por vários estudiosos judeus e rabinos com o tema: “Por que os judeus deveriam ler o Novo Testamento?” A mesma escritora, Amy-Jill Levine também escreveu o livro: “O Judeu Mal-compreendido: A Igreja e o Escândalo do Judeu Jesus.” Todos estes desenvolvimentos são muito positivos, em minha opinião, porque quando pensamos em Yeshua no contexto judaico do Primeiro século estamos chegando mais perto da verdade bíblica. O poder de D-us está no Evangelho, nas Boas Novas, e a natureza da verdade e a natureza das Boas Novas são muito semelhantes à natureza da luz. Nenhuma escuridão pode vencer até mesmo a menor das luzes. Essas distorções imperfeitas e, às vezes ultrajantes de ensino do Novo Testamento sobre Yeshua e a culpabilização de Paulo por todas as doenças cristãs são em minha opinião uma parte do processo. Os próprios Apóstolos não compreendiam Yeshua e Sua missão para com Israel e o mundo logo após a Sua ressurreição. O povo judeu tem que lidar com Yeshua e passar pelo mesmo processo que os Apóstolos tiveram que passar e que Paulo teve que passar até que ele encontrou Yeshua na estrada de Damasco e até que ouviu a mensagem de Ananias e os seus olhos foram abertos,  espiritualmente e literalmente. Temos que permitir que as pessoas, especialmente judeus, passem pelo processo de descoberta e estes desenvolvimentos são uma parte do processo. Você só precisa continuar orando pela salvação de Israel e apoiar aqueles que estão trabalhando para esta causa. Missionários cristãos em Israel cujo único objetivo é converter os judeus e torná-los parte da sua denominação devem parar seu trabalho divisionista imediatamente e voltar a ensinar o Yeshua simples dos Evangelhos. O Jesus embelezado, acessorizado, e preparado para uma procissão do Grande Inquisidor está saindo do palco da história tanto na Europa como no Ocidente, e o real, o Yeshua judeu, o Rei dos judeus, que saiu da sepultura e subiu ao céu, está voltando. Esta é uma parte do processo da restauração de Israel e da Igreja. Louvamos a D-us pelo que Ele está fazendo agora e agradecemos-LHE por cumprir Suas promessas a Seus filhos no mundo todo.

Oremos por este novo tempo! No amor Dele,
Joseph Shulam



quarta-feira, 1 de julho de 2015

A Bíblia, Servet e a Medicina

(A contribuição de Miguel Servet)


Que a Bíblia é milenar, polêmica e que influência milhões de pessoas com todos os tipos de motivações diferentes não é novidade alguma! E como diz um grande teólogo que admiro muito: 

As escrituras quando retiradas do seu contexto original se tornam uma caixa de Pandora!

Segundo a mitologia grega, Pandora foi a primeira mulher criada por Zeus e à ela foi dada um grande jarro que continha todos os males do mundo. Não é nem preciso escrever aqui todas as atrocidades cometidas pela religião e o seu clero devido a descontextualização das escrituras, procurando enfiar nelas as filosofias e interesses próprios, divorciando - se assim da verdadeira revelação do Eterno para com os homens e transformando isso na caixinha de pandora, e assim foi com Miguel Servet, que sofreu na pele os males que escaparam desse "bendita" caixa mas que deixou um importante legado para a medicina e para os estudos bíblicos.

Nascido por volta de 1511 em Villanueva de Sijena (Espanha), Miguel Servet foi Médico, Teólogo e acima de tudo, um homem de fé. Foi seu interesse pelo estudo das escrituras a causa da sua grande contribuição para a medicina, pois ao empenhar - se pela leitura nos idiomas originais da bíblia e em seu contexto original, Servet percebeu que o conceito de espírito empregado aos seres humanos não se tratava de um ser desencarnado que por ocasião da morte possui a capacidade de se desprender do corpo e ir para o céu, inferno, purgatório e etc. Versos que dizem:

...a alma da carne é o sangue (Lev 17:11).

Somente esforça - te para que não comas o sangue, pois o sangue é a vida... (Dt 12:23).

Sendo assim , desisti de acreditar no ser humano, cuja vida não passa de um sopro em suas narinas .(Isaías 2:22)

Escondes a tua face, e eles se pertubam, se retiras o seu alento, perecem e voltam ao seu pó (Salmo 104:29) e tantos outros texto bíblicos que tratam do espírito e alma do ser humano despertaram Servet a estudar o corpo humano na busca desse fôlego e ser o primeiro a descrever corretamente a circulação pulmonar, divulgando posteriormente sua descoberta em seu livro Christianismi Restitutio.

Biblicamente, espírito (Ruach) significa sopro ou fôlego e possui também significados secundários, podendo se referir ao próprio Deus que é espírito, anjos e demônios, mas nunca à almas desencarnadas de seres humanos. Abaixo alguns dos significados:

O fôlego de vida, princípio ativador da vida, poder capacitador de Deus, renovação moral, a palavra de Deus, disposição interna do indivíduo, o ser humano concreto, entimentos e emoções, capacidade mental e volitiva do homem, renascimento espiritual, uma nova criação, o estilo de vida espiritual do homem, poder de vida operante no homem e etc.

A desmistificação de dogmas religiosos promovidas por Miguel Servet o custou sofrer muitas perseguições pela igreja, em 1553 foi condenado pela inquisição francesa por questionar o confuso dogma da trindade, estabelecido nos concílios em épocas muito posteriores aos apóstolos, mas conseguiu fugir, sendo posteriormente encontrado e capturado em Genebra pelo famoso reformador protestante João Calvino. Em 27 de outubro de 1553 Servet foi levado ao morro de Champel, onde foi amarrado em uma estaca com uma coroa de palha polvilhada com enxofre em sua cabeça, uma cópia de seu livro em seus pés e foi queimado vivo. Tentaram até o fim fazer com que ele se retratasse de suas "heresias", mas não conseguiram e  suas última palavras foram:

"Ó Jesus, filho do Eterno Deus, tem compaixão de mim!", e depois de meia hora seu corpo havia sido convertido em cinzas. 


Jonatan Sampaio

Shalom!


terça-feira, 16 de junho de 2015


4QMMT e as Obras da Lei


Se existe alguma ferramenta que nos ajuda na compreensão dos textos bíblicos, essa ferramenta se chama arqueologia e seu valor se torna cada vez mais importante (juntamente com o conhecimento histórico), para aqueles que escavam as sagradas escrituras em busca dos segredos ali contidos, do seu sentido original, e de como era a fé simples das primeiras comunidades que iam reconhecendo Yeshua como o messias prometido, sem as tantas contaminações que hoje nos deparamos ao olharmos para o cristianismo em geral! A cada dia, estudos e escavações estão trazendo à luz do dia mais e mais revelações sobre aquele período em que viveram aquelas pessoas e onde aconteceram os eventos narrados na bíblia. Bom, e foram justamente essas descobertas que trouxeram informações preciosas, e entre elas, está uma que ajuda a entender um texto que tem sido motivo de grande controvérsia no meio cristão, onde a interpretação tradicional afirma que Paulo, o emissário do Senhor Jesus, ensinou coisas contrárias a lei de Deus (Torah), argumentos esses, que sempre vão naquele mesmo sofisma em dizer que estamos na era da graça, que certas coisas são apenas do velho testamento, que não precisamos mais, que tudo foi encerrado na cruz, que eram sombras do que havia de vir e blá blá blá, esquecendo - se que a era da graça sempre foi desde os primórdios, onde Abrão, vivendo em Ur dos Caldeus, um povo pagão, sendo pecador e muito provavelmente tendo tido alguma experiência com a prática e conduta desse povo ( não é a toa que ao ser provado por Deus, é testado através de uma prática comum entre aqueles povos, o sacrifício humano), e ali o Eterno se achega a ele, o chama, impede que mate Isaque e da início ao processo de separação e estabelecimento do monoteísmo, constituindo uma nação para ser santa e ser luz a todos os povos da Terra.

Ora, o SENHOR disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção. E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra. (Gênesis 12:1-3)

Enfim, isso é um longo assunto e em outra oportunidade abordarei o tema em outro artigo, aqui focaremos em uma expressão usada pelo apóstolo Paulo, que fazem muitos entrar em parafuso, principalmente pelo fato de se isolar trechos dos escritos paulinos e não atentar para o conjunto da obra. Devemos procurar enxergar o contexto da situação em que Paulo escrevia, os seus motivos, o que estava a acontecer ali naquela comunidade, a cultura e a crença de Paulo e muitas outras coisas, somente assim, podemos penetrar na mente do escritor, no caso, Paulo, e começar a entender o que o autor queria dizer, pois o próprio apóstolo Pedro afirma que os escritos do seu companheiro eram difíceis de entender e alertava para o fato de que indoutos e inconstantes distorciam. 


E tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor; como também o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada; falando disto, como em todas as suas epístolas, entre as quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem, e igualmente as outras Escrituras, para sua própria perdição. (2 Pedro 3:15-16)

Vamos aos textos:
Sabendo que o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo, temos também crido em Jesus Cristo, para sermos justificados pela fé em Cristo, e não pelas obras da lei; porquanto pelas obras da lei nenhuma carne será justificada. (Gálatas 2:16)

Todos aqueles, pois, que são das obras da lei estão debaixo da maldição; porque está escrito: Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las. (Gálatas 3:10)

Ao se deparar com a expressão obras da lei, muitos interpretam que Paulo estava a jogar na lata do lixo, a torah e os mandamentos, como se ele tivesse rasgado as páginas do velho testamento e dito: Ta tudo liberado, é tudo graça agora, Jesus alterou tudo aquilo que seu Pai ordenou! Evidentemente, isso seria um grande absurdo, pois o próprio Paulo, afirma:

E assim a lei é santa, e o mandamento santo, justo e bom. (Romanos 7:12)


E o próprio Jesus:

Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim abrogar, mas cumprir. (Mateus 5:17)

Algumas versões, vertem o termo cumprir, como tornar pleno, e a palavra Lei se refere justamente a Torah! Quando não revogamos algo, entendemos que aquilo que é aceito como válido e legítimo, continua a ser válido! Talvez alguém venha a dizer: Mas Jesus cumpriu, pagou um preço alto na cruz e eu não preciso de mandamento algum! Ai o próprio apóstolo Paulo diz:

Sede meus imitadores, como também eu o sou de Cristo. (1 Conríntios 11:1)

Paulo veio com esse papo de que tudo foi cumprido e que não precisava mais obedecer? De maneira alguma! Ele se tornou imitador da forma como Yeshua caminhava e este nunca andou de forma alheia aos mandamentos do seu Pai!

Aquele que afirma que permance nele deve andar como ele andou. (1 João 2:6)

E o que dizer dos discípulos de Beréia?

E logo os irmãos enviaram de noite Paulo e Silas a Beréia; e eles, chegando lá, foram à sinagoga dos judeus.
Ora, estes foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim. (Atos 17:10-11)


Ora, os judeus daquela sinagoga em Beréia examinavam nas escrituras aquilo que o próprio Paulo falava e não saiam aceitando tudo so pelo fato de Paulo ser apóstolo! E que escrituras eram essas que o verso se refere? Você acha que  era o Novo Testamento? Não precisamos nem comentar que era a Torah e os Profetas!

Após essa breve introdução de um assunto tão vasto e profundo, vamos agora procurar entender o que significa obras da lei. Como dito anteriormente no início deste texto, a arqueologia é de fundamental importância para um entendimento mais pleno das escrituras e é justamente isso o que acontece com o termo obras da lei! No fim da década de 40, mais precisamente em 1947, foram encontrados por pastores beduinos, nas cavernas de Qumran, no Mar Morto, centenas de textos e fragmentos, onde, cerca de 200 são bíblicos, incluindo porções de toda a bíblia hebraica, exceto os livros de Ester e Neemias, que datam de  cerca de mil anos mais antigo do que os documentos que se tinham até então. Entre as centenas de manuscritos encontrados, se encontrava um que foi batizado de MMT ou 4QMMT e que continha o título "Mikssát Maassêi ha Torá", que significa: As importantes obras da Lei, e que de acordo com o manuscrito, consistia em regras de purificação, interpretações e complementos dos mandamentos mosaicos, regras que excluiam a participação dos gentios nas atividades do templo e etc, ou seja, a coisa se tratava de um conjunto de regras, tradições e costumes humanos legalistas e não da Lei de Deus em si, e ao que tudo indica, o termo obras da lei era conhecido e bastante utilizado no século I e se referia aquele conjunto de observâncias legalistas! Os fragmentos do MMT também relatam outras práticas como: não usar tecidos em que se mistura lã e linho; não colocar debaixo do mesmo jugo animais de espécies diferentes; não semear grãos de espécies diferentes no mesmo campo; não lavar utensílios em água corrente – pois poderiam se contaminar com o que tivesse sido lavado corrente acima; etc. No Novo Testamento, temos vários exemplos desse tipo de obras da lei e para exemplificar, observemos o que ocorre em Lucas 11:37-39:

E, estando ele ainda falando, rogou-lhe um fariseu que fosse jantar com ele; e, entrando, assentou-se à mesa. Mas o fariseu admirou-se, vendo que não se lavara antes de jantar. E o Senhor lhe disse: Agora vós, os fariseus, limpais o exterior do copo e do prato; mas o vosso interior está cheio de rapina e maldade.

No episódio citado acima, vemos que um fariseu admira-se do Mestre com um olhar de reprovação, pelo fato de Jesus não ter se lavado antes do jantar. Esse costume se chama n'tilat yadayim, e a coisa já ultrapassava a mera preocupação com a higiene e passava a ter um valor de status espiritual, pela simples observância formal, mas, Jesus conhecendo o coração do fariseu, confronta não o costume em si, mas a hipocrisía daquele homem que observava o rito, mas, como o próprio verso diz, estava cheio de rapina (ou roubo) e maldade! Sabemos historicamente que a liderança religiosa daquela época e o Templo estavam corrompidos e o Senhor tinha conhecimento da situação.

Tendo Jesus entrado no pátio do templo, expulsou todos os que ali estavam comprando e vendendo; também tombou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos comerciantes de pombas. (Mateus 21:12)

Fica claro que o Senhor não era contra a lei do Pai, nem mesmo contra os costumes, certamente Jesus cumpria e observava todas essas coisas, pois o mesmo foi criado segundo todas aquelas tradições e também de acordo com a Lei e os profetas, no entanto ele não era legalista, observava todas essas coisas, mas sem o fermento do pecado e da mentira, o que tornava sua vida aceita perante o Pai e isso fica mais claro ainda nos versos adiante de Lucas 11:

.Mas ai de vós, fariseus! Porque dais o dízimo da hortelã, da arruda e de todas as hortaliças e desprezais a justiça e o amor de Deus; devíeis, contudo, praticar essas virtudes, sem deixar de proceder daquela forma. (Lucas 11:42)

Interessante como aqui Yeshua deixa bem claro que aqueles fariseus NÃO tinham que deixar de praticar aquelas ordenanças citadas, mas que praticassem em verdade, não desprezando a justiça e o amor de Deus. É óbvio que não estou a dizer que devemos dar dízimos da hortelã e da arruda, a realidade é outra, mas isso demonstra que nosso Messias nunca deixou de ser Judeu e jamais desprezou os mandamentos de Deus e nem sua identidade socio cultural, apenas teve peito suficiente para denunciar a hipocrisia dos líderes de seu tempo! Por que deveriamos desprezar sua verdadeira identidade?

O mesmo ocorre a cerca da exortação de Deus através de Isaías:

De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios, diz o Senhor? Já estou farto dos holocaustos de carneiros, e da gordura de animais cevados; nem me agrado de sangue de bezerros, nem de cordeiros, nem de bodes. Quando vindes para comparecer perante mim, quem requereu isto de vossas mãos, que viésseis a pisar os meus átrios? Não continueis a trazer ofertas vãs; o incenso é para mim abominação, e as luas novas, e os sábados, e a convocação das assembléias; não posso suportar iniqüidade, nem mesmo a reunião solene. As vossas luas novas, e as vossas solenidades, a minha alma as odeia; já me são pesadas; já estou cansado de as sofrer. Por isso, quando estendeis as vossas mãos, escondo de vós os meus olhos; e ainda que multipliqueis as vossas orações, não as ouvirei, porque as vossas mãos estão cheias de sangue. Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos meus olhos; cessai de fazer mal.Aprendei a fazer bem; procurai o que é justo; ajudai o oprimido; fazei justiça ao órfão; tratai da causa das viúvas. (Isaías 1:11-17)

Nos versos acima Deus está invalidando os mandamentos que Ele mesmo deu para o povo como estatutos perpétuos? Óbvio que não, apenas estar a exortar que a observância de tais preceitos sem um coração sincero e circuncidado não serve para nada! Sim, o circuncidar do coração não é coisa de Novo Testamento, aliás, é também, porém, contrariando o que muitos pensam, essa condição de aceitação de Deus para com o homem já existia muito e muito tempo antes, sempre foi assim desde a queda!

Circuncidai, pois, o prepúcio do vosso coração, e não mais endureçais a vossa cerviz. (Deuteronômio 10:16)

Quem lembra das ofertas de Caim e Abel? Ambos ofertaram e o Senhor não foi contra, mas o coração incircunsiso de Caim fez com que sua oferta não fosse agradável, algo muito semelhante com a exortação de Isaias.

Existe muito mais a se tratar sobre isso, textos que precisam ser esclarecidos a luz do conhecimento do contexto original, mas podemos concluir que as tais obras da lei citadas por Paulo não se tratavam dos mandamentos da lei de Deus, mas do conjunto de tradições humanas legalistas, sobrepostas ao mandamento, formando entulho e o deixando pesado e desagradável, algo muito semelhante aos episódios de Jesus em relação ao 4º mandamento (shabatt), que também nunca foi revogado, mas isso é assunto para outro momento, por enquanto, espero ter conseguido explanar aos leitores o que significa obras da lei! Há muito mais a se descobrir, há muito mais mal entendidos a serem desfeitos e assim como José filho de Jacó esteve no Egito com sua verdadeira identidade disfarçada até o tempo de ser revelado aos seus, trazendo salvação à sua casa, que no tempo determinado pelo ETERNO a verdadeira identidade do seu filho Jesus seja revelada ao seu povo, aos que tem interesse em ver sua verdadeira face!

Abaixo deixo um vídeo muito interessante, que esclarece muita coisa sobre essa questão da lei e antes que o preconceito impeça que o leitor assista ao vídeo, eu digo de acordo com o próprio vídeo: Não tem que ser Judeu para ser salvo! 




Shalom a todos e que haja paz em Jerusalém!

Jonatan Sampaio


Fonte:
Bíblia Judaica Completa - David Stern
Bíblia King James
Bíblia Almeida Corrigída e Revisada Fiel
http://ensinandodesiao.org.br/artigos-e-estudos/
http://www.arqueologia.criacionismo.com.br/2007/04/as-obras-da-lei.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuscritos_do_Mar_Morto





terça-feira, 14 de abril de 2015


O Apóstolo Paulo refuta a doutrina da Imortalidade da Alma
(Cris Molulo)

Uma das maiores declarações bíblicas que contrariam a ilusão da imortalidade da alma é o que o apóstolo Paulo escreve em 1ª Coríntios, no capítulo 15. Como veremos a seguir, o capítulo inteiro é uma refutação à doutrina de que a alma imortal se religa ao corpo por ocasião da ressurreição. Ele mostra que a ressurreição, longe de ser apenas uma religação entre corpo e alma, é o único meio pelo qual podemos viver em alguma existência futura, numa vida póstuma.
Para os imortalistas, se nenhuma ressurreição existisse nós já estaríamos assegurados no Céu de qualquer jeito com as nossas almas imortais, e a existência da ressurreição apenas implicaria em almas voltando do Paraíso e se religando ao nosso corpo morto, para depois retornarem novamente ao Céu “completos”. Tal conceito é totalmente estranho à Bíblia e inconsistente com a teologia paulina, inclusive o ensino de que moraremos no céu algum dia (veja dois artigos sobre o céu clicando aqui). Na visão dualista, se a ressurreição não existisse nós ficaríamos como espíritos desencarnados durante toda a eternidade.
Já para a Bíblia, que não atesta para a existência de um “estado intermediário das almas”, se a ressurreição do último dia não existisse então estaríamos todos perdidos, mortos no pó da terra sem mais nenhuma esperança. A pergunta que fica é: qual seria a posição do apóstolo Paulo sobre o assunto? Seria ele favorável a uma religação do corpo com a alma, sendo a ressurreição um mero detalhe desnecessário, ou seria ele favorável ao fato de que não existe vida entre a morte e a ressurreição? Paulo nos responde a esta questão em um longo capítulo de sua primeira epístola aos Coríntios. E é exatamente isso o que analisaremos a partir de agora.
1 Coríntios 15
12 Ora, se é corrente pregar-se que Cristo ressuscitou dentre os mortos, como, pois, afirmam alguns dentre vós que não há ressurreição de mortos?
13 E, se não há ressurreição de mortos, então Cristo não ressuscitou.
14 E, se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã, a vossa fé;
15 e somos tidos por falsas testemunhas de Deus, porque temos asseverado contra Deus que ele ressuscitou a Cristo, ao qual ele não ressuscitou, se é certo que os mortos não ressuscitam.
16 Porque, se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou.
17 E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados.
18 E ainda mais: os que dormiram em Cristo pereceram.
19 Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens.
20 Mas, de fato, Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo ele as primícias dos que dormem.
21 Porque assim como a morte veio por um homem, também a ressurreição dos mortos veio por um homem.
22 Porque, assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo.
23 Mas cada um por sua ordem: Cristo as primícias, depois os que são de Cristo, na sua vinda.
24 Depois virá o fim, quando tiver entregado o reino a Deus, ao Pai, e quando houver aniquilado todo o império, e toda a potestade e força.
25 Porque convém que reine até que haja posto a todos os inimigos debaixo de seus pés.
26 Ora, o último inimigo que há de ser aniquilado é a morte.
27 Porque todas as coisas sujeitou debaixo de seus pés. Mas, quando diz que todas as coisas lhe estão sujeitas, claro está que se excetua aquele que lhe sujeitou todas as coisas.
28 E, quando todas as coisas lhe estiverem sujeitas, então também o mesmo Filho se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em todos.
29 Doutra maneira, que farão os que se batizam pelos mortos, se absolutamente os mortos não ressuscitam? Por que se batizam eles então pelos mortos?
30 Por que estamos nós também a toda a hora em perigo?
31 Eu protesto que cada dia morro, gloriando-me em vós, irmãos, por Cristo Jesus nosso Senhor.
32 Se, como homem, lutei em Éfeso com feras, que me aproveita isso? Se os mortos não ressuscitam, comamos e bebamos, que amanhã morreremos.

Fiz questão de passar todo o contexto para analisarmos as várias implicações para o que é dito 
acima pelo apóstolo Paulo. Vemos que alguns cristãos da igreja de Corinto estavam dizendo que a ressurreição não iria acontecer. Paulo, então, primeiramente mostra as consequências disso, depois mostra o que aconteceria caso a ressurreição não existisse, em seguida confirma que, de fato, a ressurreição irá acontecer como algo futuro, mostra os tempos em que ela se cumprirá e termina o capítulo mostrando o que ele faria caso não ocorresse a ressurreição dos mortos.

O capítulo inteiro, que vai até o verso 58, é uma verdadeira aula sobre a ressurreição dos mortos. Se houve um ótimo momento para Paulo afirmar a sua doutrina da imortalidade da alma, com a menção das nossas almas imortais “no Céu” ou de religação de corpo e alma por ocasião dessa ressurreição, aí estava uma ótima oportunidade! Contudo, vemos que as implicações do que é acima exposto é muito, mas muito diferente daquilo que imaginam os imortalistas.
Em primeiro lugar, se existisse uma imortalidade da alma, os que “dormem”, na opinião destes, estariam como almas incorpóreas no Céu. Contudo, Paulo diz que, se não há a ressurreição, então os mortos já teriam perecido (eles não ficariam “desincorporados pela eternidade”, pelo contrário, estariam todos mortos!). O original grego traz a palavra apôlonto neste verso 18, que, de acordo com a Concordância de Strong significa: “perecer, estar perdido, arruinado, destruído” (622). Todos esses significados dão a mesma dimensão de implicação: para Paulo, os mortos estariam agora perdidos, ou totalmente destruídos, arruinados, se não fosse pela ressurreição dos mortos.
O problema para os imortalistas reside precisamente no fato de que, na teologia deles, os que morreram em Cristo estariam neste momento “no Céu”, e continuariam lá da mesma forma se não ocorresse a ressurreição, com o único detalhe de que viveriam para sempre em forma incorpórea. Então, como é que, conforme ICo 15.18, eles poderiam estar perdidos, arruinados ou destruídos se não fosse pela ressurreição? Simplesmente não faz sentido.
Estar na presença Divina (no céu, como eles acreditam), ainda que em estado incorpóreo pré-
ressurreto, deveria ser motivo de regozijo, alegria e exultação, e não de estar “perdido” ou de já ter “perecido”. Esses versos, de fato, só tem sentido se Paulo cresse que não existe vida entre a morte e a ressurreição, e que é a ressurreição que traz uma pessoa de volta à existência. Desta forma, dizer que se não fosse por essa ressurreição os que morreram em Cristo já pereceram ou estão perdidos faz todo o sentido, uma vez sendo que não haveria ressurreição para voltarem herdarem uma vida eterna póstuma.

Esta é uma das consequências fatais em caso de a alegação infundamentada dos Coríntios de que a ressurreição não existe fosse verdadeira. Aqueles que aguardam a ressurreição dentre os mortos a fim de ganhar vida nesta ocasião não ganhariam vida nenhuma – estariam destruídos – sem vida, para sempre, sem esperança (v.18,19,30,32). Não estariam desfrutando as bênçãos paradisíacas na presença divina por toda a eternidade desprovidos de corpos. O que Paulo estava dizendo era que, se a ressurreição não existe, então os mortos já pereceram. Em outras palavras, se não fosse pelo “fator ressurreição”, coitados – já teriam perecido! De jeito nenhum que estariam com as suas “almas imortais” desencarnados para todo o sempre!
Além disso, no verso 19 o apóstolo continua batendo firme nessa mesma linha, afirmando que se não há a ressurreição [de um simples corpo morto(?)], então a nossa esperança se limitaria apenas a esta vida, razão dele escrever no verso seguinte, seguindo a mesma lógica: “Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens” (cf. 1Co.15:19). Ora, mas as nossas almas já não estariam à presença divina, incorpóreas porém conscientes, na outra vida?
A ressurreição de um simples corpo morto não seria um mero detalhe? Por que a nossa esperança se limitaria apenas para esta presente vida se nós ficaríamos a eternidade inteira lá no Céu do mesmo jeito, só que sem corpo? É evidente que, para o apóstolo Paulo, a vida é somente a partir da ressurreição, e, portanto, já teriam perecido os que dormiram em Cristo caso ela não fosse uma realidade, e não existiria uma vida póstuma nem como “almas” nem como “espíritos”. A nossa esperança limitar-se-ia apenas e tão-somente a esta presente vida.
Uma “saída” encontrada por alguma parte dos defensores do estado intermediário é que Paulo 
referia-se somente ao versículo anterior: “Se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados” (v.17). Contudo, se contextualizarmos a passagem, veremos que o apóstolo está relatando uma série de conseqüências em caso que a ressurreição não existisse, das quais uma delas é a de que nem o próprio Cristo teria se levantado do túmulo, outra delas é que a nossa fé seria vã, outra delas é que os apóstolos seriam tidos como falsas testemunhas de Cristo, outra delas seria que os que dormiram em Cristo já teriam perecido, outra delas é que a nossa esperança se limitaria apenas a esta vida, e assim por diante, como podemos constatar por todo o contexto:

a) Alguns corintos estavam dizendo que a ressurreição não existia.
b) Paulo diz que, se a ressurreição não existe, então Jesus também não ressuscitou, e nós continuamos mortos em nossos pecados.
c) “E ainda mais” (ou seja, ele estava enumerando um outro ponto), se a ressurreição não existe, estão os que dormiram em Cristo já pereceram.
d) Se a ressurreição não existe, então conforme o verso 19 a nossa esperança seria apenas para esta vida (em outras palavras, não existiria uma “vida póstuma”!)
e) Mas, de fato, Cristo ressuscitou como primícia daqueles que dormem, e por isso vivificará todos os mortos na sua segunda vinda (v.23)
f) O último inimigo a ser vencido é a morte.
g) Se não há ressurreição, então Paulo lutou com feras em Éfeso à toa.
h) Se não há ressurreição, então seria melhor “comer, beber, e depois morrer”.
Como vemos, alguns de Corinto estavam duvidando da existência da ressurreição, e Paulo lhes apresenta uma série de conclusões que naturalmente se extrairiam desta falsa alegação. Se os mortos não ressuscitam, logo (1) nem sequer Cristo ressuscitou (v.13); (2) é vazia a nossa pregação (v.14); (3) é vã a nossa fé (v.14); (4) somos falsas testemunhas de que Cristo foi ressuscitado (v.15); (5) ainda estamos nos nossos pecados (v.17); (6) ainda estamos na condenação do pecado (v.17); (7) também os que dormiram em Cristo já pereceram (v.18); (8) a nossa esperança seria somente para esta vida (v.19); (9) somos os mais dignos de compaixão (v.19); (10) sofremos adversidades à toa (v.30); (11) o melhor a fazer seria viver a vida hedonisticamente (v.32).
Principalmente as conclusões de Paulo de número 7 a 11 nos mostram claramente que, sem a ressurreição, nem existiria mais nenhuma vida póstuma. Perceba ainda que em nenhum dos argumentos Paulo fala de que “os que morreram não estariam com Cristo agora mesmo”; ou que eles “não estariam na glória”; tampouco fala ele sobre “religação de corpo com alma”. Se Paulo fosse imortalista, não diria que sem ressurreição os que morreram em Cristo já teriam perecido e que a nossa esperança se limitaria apenas a esta vida, teria dito que neste caso os que morreram em Cristo iriam direto à presença divina e que continuariam como espíritos incorpóreos para sempre.
Isso nos mostra que, na visão paulina, não existia nenhuma forma de vida racional entre a morte e a ressurreição. Por isso, se não existisse ressurreição, seria o fim de tudo (cf. 1Co.15:18,19; 15:30,32). Vale a pena lembrar também que, se existisse uma alma imortal em nós, então o fato de Cristo ter ou não ressuscitado nos garantiria de qualquer jeito uma vida póstuma por meio dela, ainda mais quando de acordo com a teologia imortalista os que morreram antes de Cristo já estariam com vida em algum lugar e, portanto, não poderiam ter “perecido” como mostra o verso 18, e já obteriam uma vida póstuma contrariando o que indica o verso 19.
Para os imortalistas, os justos que morreram antes da ressurreição de Cristo já tinham suas almas conduzidas ao Céu ou ao Seio de Abraão, a um lugar de paz e descanso, e, portanto, o fato de Cristo ter ressuscitado ou não seria elementar, pois vida póstuma antes da ressurreição aconteceria de qualquer jeito. Neste caso, Paulo também não teria dito que os mortos sem a ressurreição de Cristo já teriam perecido ou estariam perdidos, mas teria dito que ficariam para sempre no Céu ou no Sheol (o que não deixaria de ser um prêmio, ao invés de uma perdição, como ele diz claramente no verso 18).
Ainda, seria errôneo afirmar que nossa esperança se limitaria apenas a esta presente vida (v.19), já que, com ou sem a existência da nossa ressurreição ou da ressurreição de Cristo, os mortos teriam sim uma vida póstuma, quando a suposta alma imortal se desligaria do corpo após a morte, o que, segundo eles, já estava acontecendo desde o início da humanidade, antes mesmo da ressurreição de Jesus ou da ressurreição geral dos demais mortos. Portanto, não existem escapatórias à luz da clareza da linguagem de Paulo neste capítulo sobre a ressurreição, que todo ele é uma negativa enfática à possibilidade de vida consciente antes da ressurreição dos mortos.
Ele nega inteiramente que qualquer crente em qualquer era já pudesse estar com vida antes da ressurreição. Os versos mostrados deixam bem claro que, na visão de Paulo, a vida era somente a partir da ressurreição, e não antes da ressurreição em um estado intermediário, como dizem os imortalistas. Evidentemente as únicas exceções a isso são os que não passaram pela morte, como é o caso de Elias e Enoque e, portanto, não necessitam de uma ressurreição, pois foram transladados vivos.
Mais algumas observações podem ser feitas à luz de todo o capítulo de 1ª Coríntios 15. O último inimigo a ser vencido é a morte, que diante do contexto será vencida em função da ressurreição, e não de uma alma imortal que vence a morte sendo liberta do corpo por ocasião do falecimento. A morte não é tratada na Bíblia como sendo uma amiga, mas como uma inimiga, como o último inimigo a ser vencido, que será destruído somente pela ressurreição. Como bem destacou Oscar Cullman:
“Somente aquele que discerne com os primitivos cristãos o horror da morte, que leva a morte a sério como ela é, pode compreender a exultação da celebração da comunidade cristã primitiva e entender que o pensamento de todo o Novo Testamento é governado pela crença na ressurreição. A crença na imortalidade da alma não é a crença num evento revolucionário. Imortalidade é, na verdade, só uma afirmação negativa: a alma não morre, mas simplesmente continua viva. Ressurreição é uma afirmação positiva: todo homem, que morreu de fato, é chamado de volta à vida por um novo ato criativo de Deus. Algo aconteceu – um milagre de criação! Pois algo também tinha ocorrido anteriormente, algo temível: a vida criada por Deus havia sido destruída”[1]
Se após a morte física nossa alma sobrevivesse e fosse direto à presença divina (para o céu, como eles ensinam), a morte teria sido vencida pela imortalidade da alma, e não somente pela ressurreição, no final de todas as coisas, como nos diz João, no Apocalipse (cf. Ap.20:14). E, por fim, Paulo diz que, se não há ressurreição, então ele lutou com feras em Éfeso à toa (v.32). Mas como seria “à toa” caso ele fosse para o Paraíso do mesmo jeito só que desincorporado? Por que ele diz que não se aproveitaria nada disso, “se os mortos não ressuscitam”? Não valeria a pena caso estivéssemos com nossa alma durante toda a eternidade no Paraíso do mesmo jeito?
Como vemos, para Paulo o Cristianismo só valeria a pena de ser vivido caso existisse a ressurreição, pois sem ela a nossa luta diária seria inútil, seria em vão. É óbvio que Paulo não imaginava que se pudesse estar na presença divida (no céu, como eles ensinam) como espírito incorpóreo antes da ressurreição. E isso fica ainda mais nítido com o verso seguinte, onde ele diz:
“Se os mortos não ressuscitam, então comamos e bebamos, que amanhã morreremos” (v.32)
Segundo o apóstolo, a melhor opção seria aproveitar hedonisticamente esta vida, “comendo e bebendo e depois morrendo”. Qual a razão para Paulo falar deste jeito? Simplesmente porque se a ressurreição não existe então também não existiria nenhuma vida póstuma. Seria o “morrer e acabou”. Para sempre. A melhor opção, então, seria “comer e beber, e depois morrer”! Clarissimamente o que se segue à morte não é um “estado intermediário das almas”, mas sim a ressurreição na volta de Cristo (v.22,23).
Sem a realidade da ressurreição, não há nenhuma esperança de vida eterna. Também é importante analisarmos o verso 30: “E por que também nós nos expomos a perigos a toda hora? Dia após dia morro!” (v.30). Para Paulo, não fosse a ressurreição dos mortos, nem valia a pena viver, porque a morte seria o fim de tudo. Por isso, o melhor a fazer seria viver hedonisticamente esta vida (v.32), pois não existiria uma vida póstuma (v.19), e ele estaria exposto a perigos sem razão lógica nenhuma (v.30)! Citando de exemplo uma prática existente entre os pagãos, Paulo diz:
“Se não há ressurreição, que farão aqueles que se batizam pelos mortos? Se absolutamente os mortos não ressuscitam, por que se batizam por eles?” (1ª Coríntios 15:29)
Paulo usa o exemplo “deles” (os pagãos), que tinham o costume de batizar em favor dos mortos, por causa da esperança deles na ressurreição. Ele não estava aqui afirmando algo que ele acredita, mas sendo irônico. Tipo, se os mortos não ressuscitam, então este batismo que era feito em favor deles seria simplesmente inútil, uma perda de tempo. Difícil imaginar isso no caso de que as almas já estivessem em algum lugar após a morte, pois, neste caso, tal batismo dos pagãos pelos mortos teria efeito com ou sem a ressurreição acontecer!
Se não há ressurreição, não há vida póstuma
Mas, na teologia bíblica, este verso faz total sentido. Afinal, se não há ressurreição, não há vida 
póstuma, já que a vida póstuma se inicia na ressurreição. E, se não há vida póstuma, não há razão de se batizar pelos mortos. Aqueles que batizavam pelos mortos não faziam isso por crer na imortalidade da alma, mas por crer na ressurreição. Eles tinham a esperança de que aqueles que já morreram iriam um dia retornar à vida por meio de uma ressurreição dentre os mortos, e, com essa esperança, batizavam em favor deles (ensino pagão). Mas, se não há ressurreição, não há retorno à vida, não há retorno à existência – por isso a inutilidade de tal batismo (é inútil de qualquer jeito)! Portanto, até mesmo quando Paulo faz uso do exemplo do convívio dos pagãos, mesmo assim há a clara menção de que é só por meio da ressurreição, e não antes dela, que alcançamos a vida.

Claramente Paulo não imaginava de jeito nenhum que sem a ressurreição os que já morreram viveriam eternamente do mesmo jeito por meio de uma alma imortal. O contexto todo faz com que qualquer pessoa com um mínimo de bom senso abandone completamente na mesma hora a heresia de que “morremos e vamos com as nossas almas imortais para o Céu, e a ressurreição é de um simples corpo morto que se religa às nossas almas no Paraíso por ocasião da ressurreição que acontece na segunda vinda de Cristo”.
A coisa mais absurda que algum imortalista diria é que sem a ressurreição o melhor que temos a fazer é viver hedonisticamente sem mais nenhuma esperança, porque para eles a vida seria eterna do mesmo jeito por meio de uma alma imortal em nós implantada. A ressurreição, sendo ou não sendo uma realidade, não impediria a vida após a morte. Seria um mero detalhe sem muita importância, pois nós viveríamos eternamente, seríamos julgados e todas as demais coisas seriam feitas sem corpo. Isso é claramente negado pelas palavras do apóstolo Paulo.
A verdade é que a própria esperança de vida eterna ou imortalidade teria perecido em caso que a ressurreição na volta de Cristo não existisse (cf. 1Co.15:18,19,30,32), o que nos mostra claramente que a esperança cristã não é a de eternidade por meio de uma alma imortal implantada em nós por ocasião do nascimento, mas sim de uma imortalidade mediante a ressurreição dos mortos, o foco de todo o capítulo (cf. 1Cor.15); aliás, de todo o Novo Testamento. É apenas pela ressurreição, por meio da ressurreição e na ressurreição que obteremos a imortalidade. Paulo nega em absoluto a existência de vida póstuma senão por ocasião da ressurreição dentre os mortos, a nossa esperança.
Do início ao fim, o apóstolo segue a linha de pensamento holista. Sendo que não existe uma “alma imortal”, então não existe uma vida “com almas” antes da ressurreição. Por isso, se essa ressurreição não existe, então os que dormem em Cristo já teriam perecido. Por isso, a nossa esperança se limitaria apenas a esta presente vida. Por isso, Paulo teria lutado com feras em Éfeso totalmente à toa, pois não existiria uma vida póstuma. Então, o melhor a fazer caso os mortos não ressuscitassem seria “comer, beber e depois morrer”. Seria o fim. Não fosse pelo fator ressurreição, a morte que cada indivíduo passa seria o fim de sua existência.
É óbvio que Paulo não tinha a mínima noção de que a ressurreição se limitava a um simples corpo mortal que se religaria ao nosso “verdadeiro eu”, as nossas almas imortais que já estariam no Paraíso em uma existência contínua. Qual nada, se não fosse pela ressurreição, já teriam perecido. Mas, de fato, Paulo traz uma esperança. Essa é a mesma esperança que os apóstolos alimentavam tanto: a esperança da ressurreição dentre os mortos, no último dia.
Paulo dá um motivo de esperança e de alegria aos coríntios, que não se baseava na ilusão pagã de que as nossas almas imortais já estariam no Céu, mas sim no dia em que todos os que estão literalmente mortos seriam vivificados. E essa esperança é apresentada nos versos 22 e 23 de maneira mais clara: “Porque, assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo. Mas cada um por sua ordem: Cristo as primícias, depois os que são de Cristo, na sua vinda”.
Em Adão todos morremos, literalmente, pois Adão desobedeceu as ordens de Deus, tornando-se mortal, sendo enganado pela mentira de Satanás de que certamente não morreria (cf. Gn.3:4). Porém, a esperança é de que, em Cristo Jesus, todos serão vivificados. De acordo com o dicionário, “vivificar” significa exatamente “Dar vida a; fazer existir”. Os mortos voltarão à vida na ressurreição do último dia, na gloriosa volta do Nosso Senhor Jesus Cristo.
Curioso é notar que, enquanto por todo o capítulo o apóstolo lista uma série de fatos trágicos que seriam realidade na hipótese de não existir ressurreição, ele por fim cita as boas-novas, falando sobre o meio pelo qual podemos ganhar vida novamente no futuro, onde em momento nenhum é mencionado que seja através de uma alma imortal imediatamente após a morte, mas sim por meio da ressurreição dos mortos, quando seremos vivificados na segunda vinda de Cristo (cf. 1Co.15:22,23).
Não é a toa que Paulo passou algumas epístolas falando capítulos inteiros sobre a ressurreição, como em 1ª Coríntios 15, o único capítulo na Bíblia completamente elaborado à ressurreição dos mortos, mas não há referência nenhuma à religação dos corpos ressurretos a almas deixando o Céu, o inferno ou o purgatório. Como Paulo poderia ter se esquecido do ponto mais fundamental da doutrina da ressurreição, no ponto de vista dualista?
Certamente os teólogos imortalistas do século XXI com as suas doutrinas dualistas iriam dar uma “aula teológica” para o apóstolo Paulo aprender a falar de algo tão importante na doutrina da ressurreição! Não seria estranho que Paulo deixasse de mencionar isso inteiramente em sua discussão acerca daquilo que acontece na ressurreição? Afinal, tal conceito é de fundamental importância a fim de compreendermos o que se dá por ocasião da ressurreição. Se Paulo fosse imortalista, certamente não deixaria de mencionar um “fato” tão importância dentre os acontecimentos que sobrevêm na ressurreição!
E olha que Paulo não poupou palavras sobre o tema. Disse sobre as consequências da ressurreição (v.19,20), disse sobre as testemunhas da ressurreição (v.4,5), disse sobre o seu próprio testemunho (v.8), disse sobre a ressurreição de Cristo (v.13), disse sobre quando seremos vivificados (v.22,23), disse sobre o inimigo da ressurreição (v.26), disse com que tipo de corpos virão (v.36-39), disse sobre os corpos celestes e os corpos terrestres (v.40), disse sobre o corpo semeado e o corpo ressurreto (v.v.42-44), disse sobre a imagem do homem terreno e celestial (v.47,48), disse sobre quando seremos imortais (v.53), disse sobre quando seremos incorruptíveis (v.51-54), disse sobre quando a morte é tragada (v.54,55). .. mas sobre a religação de corpos ressurretos com almas incorpóreas, um dos principais pontos e focos da doutrina da imortalidade da alma no contexto da ressurreição… nada!
Mais do que isso, ele acentua o momento em que realmente atingiremos a imortalidade:
“Eis que eu lhes digo um mistério: Nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao som da última trombeta. Pois a trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis e nós seremos transformados. Pois é necessário que aquilo que é corruptível se revista de incorruptibilidade, e aquilo que é mortal, se revista de imortalidade. Quando, porém, o que é corruptível se revestir de incorruptibilidade, e o que é mortal, de imortalidade, então se cumprirá a palavra que está escrita: A morte foi destruída pela vitória” (cf. 1Co.15:51-54)
Como vemos, a imortalidade não é algo que nós já possuímos (supostamente na forma de uma alma imortal dentro de nosso ser), mas sim algo pelo qual nos revestiremos, no futuro. E quando? Na ressurreição dos mortos.
Artigo extraído de: http://www.evangelhoperdido.com.br/o-apostolo-paulo-refuta-a-doutrina-da-imortalidade-da-alma/